2005/08/25

Jazigo

Meu corpo está em putrefação
já não respira, já não preciso comer,
meu sangue, neste chão batido
irriga os rios de ódio submersos.

Estou cambaleando, meus olhos entrelaçam-se
desordenados pelo vôo dos abutres.
Estão a espreita, sorteando cada pedaço de mim.
Meu aroma carnificina os atiça aos mais delirantes banquetes.

E as moscas, tantas moscas
das mais variadas espécies
lambem cada célula morta pela fadiga, pela descontenta
secas pelo esgotamento da bravura.

Agora, gero várias vidas.
Das úteis plantas, sou excremento que as alimenta
Dos inúteis insetos, sou berçário,
o genitor de vidas tão asquerosas.

Ainda sim, eu sinto... e como sinto
cada dolorida mordida, um petisco aos vermes
patrões, senhores, sociocráticos, inimigos.
Me vendi, para não ser vendido, quanto pagaste?

Aqui jaze, mais um cadáver à vocês
malditos bruxos, magos do lucro alheio.
Aqui jaze, mais um sendo assim menos um.
Mas chorem, chorem de raiva de mim
pois meu espírito ninguém vai conseguir quebrar.

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